(2020) - Calendário 2020

COISAS DO CORAÇÃO

 Fonte inspiradora dos poetas, mencionado de maneiras diversas ao longo dos tempos na mitologia, na teologia nas artes e, particularmente, na literatura, o coração carrega uma simbologia que está impregnada no imaginário da humanidade. 

Na ACTC - Casa do Coração essa simbologia se concretiza. Centro da vida, centro das emoções, da dor, do sofrimento, do amor, a vida se faz pelo coração. 

Nos primórdios da Atividade Maria Maria, tempo de espera e de esperança, ele emergia intensamente nos bordados, teimando em aparecer em múltiplas formas.  

Ao longo dos anos, amparadas pela literatura e pela Arte, as bordadeiras da ACTC - Casa do Coração foram convidadas à evasão para outros mundos, experimentando novas possibilidades de olhar, de narrar e de sentir o mundo. Puxando o fio tênue da vida, revisitaram elementos de seu universo cultural, passearam por suas paisagens internas e tramaram devaneios de outra vida possível. 

Experimentando novos conteúdos, o tecer fluiu, esparramou-se nas memórias de lugares conhecidos e idealizados.  

Nesse tempo de transformação pessoal, íntimo e estético, reinventaram esperanças e existências. 
 
Dando continuidade ao frutífero diálogo da literatura com o bordado e o seu poder transformador, convocamos nossas bordadeiras a participarem do projeto Coisas do Coração.

 Para sensibilizá-las, enviamos o livro O coração e a garrafa, de Oliver Jeffers que trata da perda, de nossas defesas diante da dor e do delicado processo de voltar a sentir. Diante do convite para a expressão livre, a partir do desenho do coração, campo fértil de expressão, criaram mundos em linhas, nos quais puderam exprimir suas vozes interiores.

 Mesmo aquelas que não sabiam bordar se renderam à proposta.  

Instigadas, apoiaram-se no vigor do vermelho e na intensidade de outros tons. Uma vibrante explosão de cores domina a cena. Na expressão artística do bordado buscam redimensionar os corações, cicatrizar a dor. Matizam?se válvulas, alinhavam-se veias, preenchem-se artérias. Foi preciso buscar palavras para nomear os filhos, inscrever sonhos e desejos, marcar a saudade.  A alquimia se fez nas mãos das bordadeiras, no movimento criativo que embala sonhos e angústias.  

Para algumas, o fio fora arrematado. O fio contínuo segue no luto, na elaboração da dor da perda. Mas, ao bordar o coração, a memória é nomeada, reconstrói-se um novo tecido.  

No delicado movimento das mãos e no contato criativo com o mundo interior, emergiram corações que transbordam força. Inscritos no tecido, os corações almejam a possibilidade da cura. 

O bordado se faz linguagem, constrói e pratica sentidos, intervindo no real. As linhas se metaforizam em fios da vida, na incrível e humana busca pela reparação e elaboração da dor.  

No delicado movimento das mãos, em uníssono com as tramas interiores inscritas em cada uma delas, brotaram corações desejosos e pulsantes pela vida. Apesar de tudo... 

ACTC - CASA DO CORAÇÃO 25 ANOS

Comemorar os 25 anos da ACTC é celebrar a vida, em seus contínuos e surpreendentes caminhos.
Comemorar é rememorar com outros, ?lembrar junto? as vivências agasalhadas pela memória.
É preciso recuperar lembranças do tempo.

Embalada pelo poder transformador do humano, a história da Casa do Coração se juntou a tantas outras histórias onde, dor, alegria e afetos se entrelaçaram, num movimento de vida, aprendizagem e crescimento.
Da união de desejos, vozes e gestos solidários, foi construída em 1994 a Casa do Coração, lugar de reciprocidade e de encontro.

Um espaço capaz de acolher famílias que precisavam de abrigo e de alento...
A Casa do Coração é lugar de chegada e de saída, mesclado pelo afeto e pela força de se acreditar que a vida vai além da doença.

Valeu a pena?
Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena
Quem quer passar além do bojador
Tem que passar além da dor.

Esse fragmento do poema ,Mar Português, de Fernando Pessoa, estampado logo na entrada da ACTC, é emblemático de nossa luta.

Tudo vale a pena, quando todos se juntam, acreditando na grandiosidade da vida.
Há esperança quando os laços de solidariedade atravessam as paredes desta casa.
Diante do imprevisível, de forças nem sempre conhecidas que nos habitam, sabemos, que, mais do que nunca, é preciso sonhar.
E assim, nesta casa, a vida e o humano se agigantam em cada gesto, em cada palavra dita por cada um de nós, na incessante busca de sonhos sonhados juntos...