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22/05/2015

DOUTOR RESPONDE

Existe relação entre o pai ou mãe ter sido usuário de drogas e o diagnóstico de Ventrículo Único/ Hipoplásico em seu filho?

Existe relação entre o pai ou mãe ter sido usuário de drogas e o diagnóstico de Ventrículo Único/ Hipoplásico em seu filho?

Desde 1992 tornou-se conhecido por trabalhos em teratologia (ciência médica de estudo da contribuição ambiental ao desenvolvimento pré-natal alterado) de que parece haver uma relação entre usuários de drogas ilícitas, principalmente cocaína, e o advento de cardiopatias congênitas do tipo do ventrículo único. Acredita-se que, por mecanismo de trombose (formação de coágulo) das artérias coronárias do coração do feto, haja a evolução para uma malformação cardíaca tipo ventrículo único, devido à diminuição da perfusão das estruturas embrionárias do coração, com consequente alteração morfológica cardíaca.

No entanto, deve-se afirmar que a maioria das crianças portadoras de ventrículo único não são expostas ao efeito de qualquer droga, o que torna a especificidade do evento realmente pequena, isto é, o aparecimento da anomalia congênita não é exclusiva decorrência do uso da cocaína pelos genitores. E, por outro lado, esta anomalia também não ocorre no feto de todos os pais que sistematicamente são usuários de drogas.

Dos 58 casos de lactentes com ventrículo único estudados por Martin ML & Khoury MJ (Cocaine and sigle ventricle: a population study - Teratology, 1992((3): 267-70), apenas em 7 do grupo controle havia a exposição a drogas no início da gestação. Desde então, os relatos médicos esporádicos tem confirmado tal dependência e relação do ventrículo único em filhos de usuários de drogas.

Por outro lado, é conhecido e já estabelecido que a cocaína provoca no feto baixo peso ao nascer, aumento maior de placenta prévia da mãe, parto prematuro e, ainda, a ocorrência de outra anomalia, a persistência do canal arterial, a qual necessita de correção operatória.

Outras associações descritas como decorrente do uso de drogas ilícitas é a trombose do arco aórtico com coarctação da aorta que, sem dúvida, na prática clínica, é evento extremamente raro, o que acentua a relação com a cocaína, principalmente no que se refere à presença da trombose.
Lembro que a trombogenicidade (predisposição e afinidade para produzir trombos) da cocaína se relaciona à potente vasoconstricção e a alterações dos mecanismos de coagulação. Assim, é ela causa de obstrução de artérias coronárias em adultos com dano ao músculo cardíaco e consequente infarto do miocárdio, além de acidente vascular cerebral por obstrução das artérias cerebrais.

Outros relatos relacionam também a cocaína com duplo arco aórtico e a heterotaxia (posição cardíaca para a direita). Outros potenciais malefícios se referem a prolongamento do intervalo QT no eletrocardiograma por problemas causados nos canais de sódio e de potássio, que predispõem a arritmias graves e até fatais, levando à morte súbita.

O uso da maconha também deve ser lembrado: por seu lado, pode predispor a outra malformação cardíaca, a comunicação interventricular, anomalia que ocorreu percentualmente em dobro nos fetos de filhos de usuários dessa droga. 

A exposição, principalmente à cocaína, na gravidez, pode originar alguma anormalidade estrutural elétrica de condução do músculo do coração e da pressão arterial. A extensão do dano depende do estado da morfogênese e da frequência e quantidade da droga. É notório na comparação de mães usuárias de drogas que a ocorrência de alterações de qualquer natureza ocorrem 6 a 10 vezes mais do que na população com hábitos saudáveis.

Enfim, as drogas ilícitas causam inúmeros malefícios para o corpo humano e para a sociedade como um todo, incluindo os inocentes filhos que herdam toda a gama de problemas relacionados.

Lembro ainda que o principal efeito e motivação provocados pelo uso da cocaína nas doses habitualmente empregadas são a euforia, o estado de bem estar, a elevação do humor e o aumento da auto-estima. Essas sensações de prazer momentâneas devem ser substituídas, sem dúvida, pela exacerbação da responsabilidade a si próprio e o apreço aos nossos semelhantes, em face dos conhecidos malefícios provocados pela droga. No entanto, sendo para uma determinada pessoa, em apuro emocional, difícil de superar alguma fase ou experiência ruim consigo mesma, é necessário salientar que o caminho adequado a ser traçado e desfrutado é o do controle emocional, através a terapia com psicólogos e psiquiatras. 

Prof. Dr. Edmar Atik 
Professor Livre-Docente de Cardiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - Médico da Cardiologia Pediátrica do Instituto do Coração (InCor) e do Centro de Cardiologia do Hospital Sírio -Libanês

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