22/05/2015
"Nossa vida não tem planejamento, é um sobe e desce de emoções..."
Depoimento da mãe/acompanhante Leila Do Socorro Gonçalves Gomes à educadora Cristina Macedo Tomaz
Sou natural de Belém, Pará, mas aos 17 anos vim com meus pais para o Rio de Janeiro, onde me casei e vivo até hoje. Passei parte da minha adolescência nessa cidade e sempre sonhei em casar de véu e grinalda, sonhava ter duas filhas, o que de fato aconteceu.
As bonecas sempre me encantaram, tanto que, quando namorava, ganhei uma do meu futuro marido. Quando estava noiva, fiz um curso de bonecas, passei a vendê-las, o que ajudou na compra do meu enxoval. Por isso, procuro participar de oficinas de artesanato na ACTC - Casa do Coração.
Minha filha Lorena foi desejada e planejada, seu nascimento, em 1992, foi emocionante. No entanto, aos dois meses, ao saber que tinha miocardiopatia dilatada, me desesperei. Tive que lidar com o inesperado e, algumas questões passaram pela minha cabeça: Por que eu? Mas eu queria tanto... Não é justo!
A partir desse momento tudo mudou, deixei meu emprego, que adorava, minha vida parou. Como na minha cidade não havia tratamento, mesmo sem conhecer ninguém, me enchi de coragem e vim sozinha para São Paulo, cidade que representava a salvação da minha filha.
Do INCOR me encaminharam para a ACTC - Casa do Coração, onde me deram algumas roupas, pois nunca imaginara que ficaria tanto tempo por aqui. Nessa época, Lorena tinha três anos e tivemos que ficar por um ano. Só fui a minha casa, rapidamente, uma única vez, pois o caso dela era de transplante.
Durante esse tempo de espera, avisaram que havia um coração, mas os pais não consentiram na doação. Ela estava ficando debilitada, porém nunca perdi a esperança e, na mesma semana, chegou o seu coração. Teve parada cardíaca e rejeição, mas conseguiu superar.
Nessa época, passei o natal e o ano novo sem minha família, pois Lorena estava internada. Só estávamos eu e outra mãe, Claudenice. Juntas nos fortalecemos, construímos um laço de amizade em um momento difícil, que se mantem até hoje.
No decorrer do tratamento, sempre vínhamos às consultas e Lorena continuava seus estudos, mas em 2010, surgiu uma suspeita de câncer no couro cabeludo, mas no final tudo foi resolvido. Dois anos depois, Lorena, agora com 22 anos, terminou o segundo grau e queria fazer faculdade, no entanto, um problema nos rins impediu seus planos. Nossa vida não tem planejamento, é um sobe e desce de emoções, vivo o momento.
Aos 39 anos engravidei novamente, foi a melhor coisa da minha vida. Minha filha Eloah, hoje com 7 anos, faz tudo de uma criança normal, porque Lorena não fez nada disso. Vivi uma nova experiência, tem sido maravilhoso!
Aprendi a bordar no início da Atividade Maria Maria, mas me incomodava ganhar pelo trabalho, porque já recebia muita ajuda da ACTC - Casa do Coração. Não achava justo, resolvi parar porque ficava pouco tempo na ACTC - Casa do Coração.
Em 2014, por conta do transplante de rins de Lorena, tive que ficar mais tempo na casa e retomei minha aprendizagem. Tenho me esforçado para fazer um trabalho bonito e bem feito, sou exigente, se necessário refaço. Ao bordar, entro em outra sintonia, esqueço o mundo lá fora. Já fiz o meu primeiro projeto, desenhar foi muito desafiante, mas já me acostumei a vencer obstáculos. A renda com os bordados tem me ajudado muito, já consegui reformar meus móveis e tenho outros sonhos de onde aplicar o que recebo.
Valeu a pena Lorena ter feito o transplante, mesmo que ela vivesse só por um dia, porque eu sei que lutei pela vida da minha filha querida, fiz o meu melhor.